Da obra de AdiasMachado e ArnaldoMacedo
Nas
telas de um vêem-se homens e mulheres mesclados entre cenários improváveis.
Pernas e braços avançam sobre o mar. A terra tinge o movimento dos corpos entre
os corpos. Há crianças atravessadas nos colos e animais de anatomia imperfeita.
É a perfeita fusão da carne, entre a matéria e o coração. Em cada tela há um
sonho, um sentir, um rosto com contornos de outras faces, todos de olhos
apontados no mesmo porvir. Em cada tela, sabemos que não estamos sós. E ele
sabe da sombra quando a luz fica em nós.
Nas
telas de um outro vêem-se janelas. Janelas que adivinham uma porta fechada.
Entre uma e outra, está o abismo do céu e do mar. Há azul sobre montanhas e
folhas entre nuvens. Sente-se um reinventar da verdade. Um pincelar de vermelho
sobre o pensamento, jorrando conhecimento, como que dissolvendo maçãs no
oceano. Como se o sangue fosse encontrar motivos para sorrir. Do outro lado está
este mundo. E aqui mesmo, antes da tela, sabe-se apenas da janela e da porta
que ele nunca, nunca quis abrir.
Num,
as raízes apontam o horizonte, noutro, as árvores caem do céu. Mas ambos
almejam a mesma morte. Um humilde triunfar antes da sorte. Os dois aspiram a verdade
sem razão e sem fundamento para as ínfimas incertezas. Eles só creem na
liberdade, no nascimento do homem-novo e no eco de outras riquezas.
Um é
um procurar-fora. Outro, um procurar-dentro. Mas juntos, à distância de apenas
duas paredes, são a sinergia das cores que sabem de cor a cor da nossa alma.
Falar
deles é falar de fé. Falar das obras deles é falar de deus. Porque só deus pode
ser visto nos espaços vazios de uma tela. Retina fora dos olhos de quem sente.
Dentro avista-se a alma do pintor a evaporar através dos poros. Inala-se
esperança e secam-se os poros tingidos, entre a moldura de um tecido que já não
é quadro. É pele.
Num
reflexo, um é sonho e outro é sangue. Mas não importa quem. Importa somente que
renasçam assim: de olhos apontados um no outro.
Diz-nos
o sonho que, entre um e outro quadro, está cada um de nós. Imersos num universo
silencioso onde só os olhos ousam escutar. Entre uma e outra obra está a vida.
E a vida, diz-nos o sangue, não se pode adiar.
Carina
Flor
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